sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Poesia, um bom recomeço

Volto a ocupar este espaço, que tem vivido longos silêncios, trazendo o som da poesia de  Ferreira Gullar e a promessa de um ano mais ruidoso por aqui.  Para interromper a fase de  mudez e quase abandono, a voz do poeta a interpretar o "aflito silêncio" que traz rumor e cor à página em branco. Fica o não dito por dito é o poema de abertura do seu novo livro (Em alguma parte alguma) presente que recebi de um amigo no final do ano passado. .






o poema
antes de escrito
não é em mim
mais que um aflito
silêncio
ante a página em branco

ou melhor
um rumor
branco
ou um grito
que estanco
já que
o poeta
que grita
erra
e como se sabe
bom poeta(ou cabrito)
não berra

o poema
antes de escrito
antes de ser
é a possibilidade
do que não foi dito
do que está
por dizer
e que
por não ter sido dito
não tem ser
não é
senão
possibilidade de dizer

mas
dizer o quê?
dizer
olor de fruta
cheiro de jasmim?

mas
como dizê-lo
embora o diga de algum modo
pois não calo

por isso que
embora sem dizê-lo
falo:
falo do cheiro
da fruta
do cheiro
do cabelo
do andar
do galo
no quintal

e os digo
sem dizê-los
bem ou mal

se a fruta
não cheira
no poema
nem do galo
nele
o cantar se ouve
pode o leitor
ouvir
( e ouve)
outro galo cantar
noutro quintal
que houve.

(e que
se eu não dissesse
não ouviria
já que o poeta diz
o que o leitor
– se delirasse -
diria)

mas é que
antes de dizê-lo
não se sabe
uma vez que o que é dito
não existia
e o que diz
pode ser que não diria

e
se dito já não fosse
jamais se saberia

por isso
é correto dizer
que o poeta
não revela
o oculto:
inventa
cria
o que é dito
( o poema
que por um triz
não nasceria)

mas
porque o que ele disse
não existia
antes de dizê-lo
não o sabia

então ele disse
o que disse
sem saber o que dizia?
então ele sabia sem sabê-lo?
então só soube ao dizê-lo?
ou porque se já o soubesse
não o diria?

é que só o que não se sabe é poesia

assim
o poeta inventa
o que dizer
e que só
ao dizê-lo
vai saber
o que
precisava dizer
ou poderia
pelo que o acaso dite
e a vida
provisoriamente
permite.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Dia do Amigo


                                                                
Nenhum outro dia seria mais oportuno para publicar a música "Amigo é Casa", de Capiba e Herminio Bello de Carvalho, do que o "Dia do Amigo". A gravação faz parte dos "extras" do DVD de mesmo título.  Além disso, a interpretação intimista da Zélia Duncan e da Simone cai como uma "luva" nesta homenagem aos amigos, em seu dia especial.

"Amigo é pra ficar, se chegar, se achegar,
se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer
Amigo a gente acolhe, recolhe e agasalha..."

Amigo... em qualquer caminhada


No dia dedicado ao Amigo, um belo poema da Flora Fiqueiredo, do seu livro Calçada de Verão.

Amigo

Amigo: 
quando estiver num momento ofendido,
faça sua queixa
ao meu ouvido, 
que eu o acalento.
Se o fustiga o dissabor
de qualquer vento inquieto,
deixe que eu lhe seja o objeto
a anteparar o frio.
E se o vazio da tristeza
lhe assaltar o peito,
traga-me a dor
que arranjo um jeito 
de alisar-lhe a aspereza.
Mas, por favor, venha correndo
a cada vez que se pressentir
 sofrendo,
para que eu possa amparar 
sua inquietação.
Estendo-lhe também a mão
quando sentir que titubeia
no caminho,
pois tenho a fórmula encantada
de carinho,
que o porá de novo
em pé, na estrada.
Se, porventura,
tiver um momento de saudade
de uma imagem já gasta e esmaecida,
deixe que eu seja aquela amiga
escolhida, 
pra lhe ouvir a estória.
 Mas se, ao contrário,
estiver vivendo um sabor de glória,
fique ao meu lado
para que eu possa aplaudir,
embevecida,
seu momento de ascensão.
quero ser chamada em toda situação
para ser ouvinte,
para ser usada.
E, em troca dessa devoção
até desbalançada e descabida,
não quero nada,
a não ser sua aura tão dourada
a me roçar a vida.


terça-feira, 2 de novembro de 2010

Retomando a Palavra




Hoje acordei com vontade de falar da viagem que fiz, em junho, ao Rio de Janeiro. Faz tempo!... Mas nunca é tarde para as boas lembranças, para "poetizar" as belezas da Cidade Maravilhosa, mesmo que a poesia surja apenas das imagens.

Dessa vez, além de voltar ao Corcovado e ao Pão de Açucar (ciceroneando a minha companhia mais querida), visitei "mares nunca dantes navegados":
  • a Biblioteca Nacional, que no dia 29 de outubro completou 200 anos. A beleza arquitetônica do seu imponente palácio na praça da Cinelândia esconde raridades protegidas sob forte esquema de seguranca e, nas entranhas do seu imenso acervo, mil e uma histórias (quanta inspiração!);
  • no Theatro Municipal, lindamente reformado, a ópera "O Guarani" para celebrar cem anos de mais um exuberante palácio. Uma maravilha de espetáculo: na fachada, nas escadarias, no teto, no palco!... (Quanta arte!);
  • o Museu da República, além de pompa e muita história, tem um belíssimo jardim, onde senhores e senhoras se reúnem para viver belos momentos musicais, ao estilo das antigas serenatas. Uma encantadora viagem no tempo!

O meu olhar se perdeu em meio a tantas belezas e o meu espírito se encontrou por alí como se relembrasse momentos vividos em tempos de antanho. Será?!... Uma constatação ficou: voltarei para novos deleites.

Por hoje é só. Mas não poderia concluir sem dizer que "o Rio de Janeiro continua lindo!" E olha que nem falei de suas belezas naturais!...